A DISCIPLINA DA ADORAÇÃO
Posted: sábado, 11 de setembro de 2010 by Ministério de Louvor IMC Carangola in Marcadores: Louvor e Adoração
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“Adorar é avivar a consciência pela santidade de Deus, alimentar a mente com a verdade de Deus, purgar a imaginação pela beleza de Deus, abrir o coração ao amor de Deus, consagrar a vontade ao propósito de Deus” William Temple.
Adorar é experimentar a realidade, tocar a vida. É conhecer, sentir, experimentar o Cristo ressurreto no meio da comunidade reunida. É irromper na Shekinah ( A glória ou a radiância de Deus habitando no meio de seu povo. Denota a Presença imediata de Deus em oposição a um Deus abstrato ou distante) de Deus, ou melhor ainda, ser invadido por ela.
Deus está ativamente buscando adoradores. Jesus declarou: “Os verdadeiros adoradores adorarão o Pai em espírito e em verdade; porque são estes que o Pai procura para seus adoradores”(João 4.23). É deus quem busca, atrai, persuade. A adoração é a resposta humana à iniciativa divina. No Gênesis Deus andava no jardim à procura de Adão e Eva. Na crucificação Jesus atraiu homens e mulheres para si mesmo (João 12.32). A Escritura está repleta de exemplos dos esforços de Deus para iniciar, restaurar e manter comunhão com seus filhos. Deus é como o pai do pródigo que, vendo o filho ainda distante, correu para recebe-lo em casa.
Adoração é nossa resposta às aberturas de amor do coração do Pai. Sua realidade central encontra-se “em espírito e em verdade”. Ela acende-se dentro de nós somente quando o Espírito de Deus toca nosso espírito humano. Fórmulas e rituais não produzem adoração, nem o faz o seu desuso formal. Podemos usar todas as técnicas e métodos certos, podemos ter a melhor liturgia possível, mas não temos adorado o Senhor até que o Espírito toque o espírito. As palavras do hino “Liberta minha alma para que u possa adorar-te” revelam a base da adoração. Enquanto Deus não tocar e libertar nosso espírito, não podemos entrar neste domínio. Cantar, orar, louvar, tudo isso pode conduzir à adoração, mas a adoração é mais do que qualquer desses atos. É preciso que nosso espírito seja inflamado pelo fogo divino.
Como resultado, podemos ser indiferentes à questão de uma fórmula correta para a adoração. O problema de alta liturgia ou baixa liturgia, esta fórmula ou aquela, é periférico e não central. Sentimo-nos estimulados em nossa indiferença quando observamos que em parte alguma o Novo Testamento prescreve uma determinada forma de adoração. Em realidade, o que encontramos é uma liberdade inacreditável para pessoas com raízes tão profundas no sistema litúrgico da sinagoga. Elas tinham a realidade. Quando o Espírito tocava o espírito, as fórmulas se tornavam inaplicáveis.
O OBJETO DE NOSSA ADORAÇÃO
Jesus respondeu para sempre a questão de a quem devemos adorar. “Ao Senhor teu Deus adorarás, e só a ele darás culto” (Mt.4.10). O único Deus verdadeiro é o Deus de Abraão, de Isaque e de Jacó; o Deus que Jesus Cristo revelou. Deus deixou claro sua repulsa à idolatria colocando um mandamento incisivo no começo do Decálogo. “Não terás outros deuses diante de mim” (Ex.20.3). A idolatria não consiste apenas em curvar-se perante objetos visíveis de adoração. ª W. Tozer diz: “A essência da idolatria é dar acolhida a pensamentos indignos acerca de Deus”. Pensar retamente acerca de Deus é, num importante sentido, ter tudo certo. Pensar erradamente acerca de Deus é, num importante sentido, ter tudo errado.
Necessitamos desesperadamente de ver quem é Deus: ler a respeito de sua auto-revelação ao seu antigo povo Israel, meditar nos seus atributos, fixar-se na revelação de sua natureza em Jesus Cristo. Quando vemos o Senhor dos exércitos “alto e sublime”; quando ponderamos sobre sua infinita sabedoria e conhecimento; quando nos maravilhamos diante de sua insondável misericórdia e amor, não podemos deixar de irromper em doxologia.
Alegre, teus atributos confesso,
Gloriosos todos e inumeráveis.
Ver quem é o Senhor conduz-nos à confissão. Quando Isaías captou a visão da glória de Deus, clamou: “Ai de mim! Estou perdido! Porque sou homem de lábios impuros, habito no meio de um povo de impuros lábios, e os meus olhos viram o Rei, o Senhor dos Exércitos” (Isaías 6.5). A pecaminosidade penetrante dos seres humanos evidencia-se quando contrastada com a radiante santidade de Deus. Nossa volubilidade torna-se extrema uma vez que vemos a fidelidade de Deus. Entender sua graça é entender nossa culpa.
Adoramos o Senhor não só por ser ele quem é mas também pelo que ele tem feito. Acima de tudo, o Deus da Bíblia é o Deus que age. Sua bondade, fidelidade, justiça, misericórdia podem ser vistas em seus tratos com seu povo. Suas ações graciosas estão não apenas impressas na história antiga, mas estão gravadas em nossas histórias pessoais. Conforme disse o apóstolo Paulo, a única resposta racional é a adoração (Romanos 12.1). Louvamos a Deus por quem ele é, damos-lhe graças pelo que ele tem feito.
A PRIORIDADE DA ADORAÇÃO
Se o Senhor há de ser Senhor, a adoração deve ter prioridade em nossa vida. O primeiro mandamento de Jesus é: “Amarás, pois, o Senhor teu Deus de todo o teu coração, de toda a tua alma, de todo o teu entendimento e de toda a tua força”( Marcos 12.30). A prioridade divina é, em primeiro lugar, adoração; em segundo lugar serviço. Nossa vida deve ser pontilhada de louvor, ações de graça e adoração. O serviço flui da adoração. O serviço como substituto da adoração é idolatria. A atividade pode tornar-se a inimiga da adoração.
Deus declarou que a função primeira dos sacerdotes levíticos era chegarem-se a ele, para o servirem (Ez.44.15). Para o sacerdócio do Antigo Testamento, servir a Deus devia preceder a qualquer outro trabalho. E isso não é menos verdadeiro quando se trata do sacerdócio universal do Novo Testamento. Uma grave tentação que todos enfrentam é procurar responder a chamados de serviço sem servir ao próprio Senhor.
PREPARO PARA A ADORAÇÃO
Um aspecto surpreendente da adoração, na Bíblia, é que as pessoas se reuniam naquilo que só poderíamos chamar de “santa expectação”. Elas acreditavam que realmente ouviriam o Kol Yahweh, a voz de Deus. Quando Moisés entrava no Tabernáculo, sabia que estava entrando na Presença de Deus. A mesma coisa era verdadeira com relação à igreja primitiva. Não lhes causava surpresa que o edifício em que se reuniam tremesse com o poder de Deus. Já havia acontecido antes (At.2.2; 4.31).. Quando alguns caíam mortos e outros eram ressuscitados dentre os mortos pela palavra do Senhor, as pessoas sabiam que Deus estava no meio delas (At.5.1-11; 9.3643; 20.7-10). Quando os crentes primitivos se reuniam, estavam perfeitamente cônscios de que o véu se rasgara ao meio, e como Moisés e Arão, estavam entrando no Santo dos Santos. Não havia necessidade de intermediários. Eles estavam entrando na tremenda, gloriosa, graciosa Presença do Deus vivo. Reuniam-se com antegozo, sabendo que Cristo estava presente entre eles e os ensinaria e os tocaria com seu poder vivo.
Como cultivamos esta santa expectação? Ela começa em nós quando entramos na Shekinah do coração. Embora vivendo as exigências de nosso tempo, estamos cheios de adoração interior. Trabalhamos, brincamos, comemos e dormimos, mas estamos ouvindo, ouvindo sempre a nosso Mestre. Os escritos de Frank Laubach estão impregnados deste senso de viver à sombra do Todo-poderoso. “De todos os milagres de hoje, o maior é este: saber que melhor te encontro quando trabalho ouvindo... Graças te dou, também, porque o hábito de conversação constante fica mais fácil a cada dia. Creio, realmente, que todos os pensamentos podem ser conversações contigo”.
O Irmão Lawrence conhecia a mesma realidade. Pelo fato de haver experimentado a presença de Deus na cozinha, ele sabia que encontraria Deus também na missa. Eis o que ele escreveu: “Não consigo imaginar como pessoas religiosas podem viver satisfeitas sem a prática da Presença de Deus”.
Captando a visão do Irmão Lawrence e de Frank Laubach, recentemente dediquei um ano a aprender a viver com uma perpétua abertura para Jesus como meu Mestre presente. Decidi aprender seu vocabulário: está ele dirigindo-se a mim por meio de pássaros canoros ou de um rosto triste? Procurei deixar que ele se movesse através de cada ação: estes dedos enquanto escrevo, esta voz quando falo. Meu desejo era pontilhar cada minuto com sussurros interiores de adoração, louvor e ações de graça. Muitas vezes falhei durante horas, até mesmo por alguns dias. Mas voltava sempre e tentava de novo. Esse ano proporcionou-me muitas coisas, ma a que mencionarei aqui é que ele elevou grandemente meu senso de expectação pública. Afinal de contas, ele me havia falado por dezenas de pequenas formas no decorrer da semana; certamente ele me falará aqui também. Além disso, achei cada vez mais fácil distinguir sua voz do frêmito e das circunstâncias da vida.
Quando duas ou mais pessoas vêm ao culto público com uma expectação santa, essa atitude pode transformar a atmosfera do recinto. As pessoas que entram oprimidas e distraídas podem, de imediato, ser atraídas para um senso da Presença silente. Corações e mentes são elevados. O ambiente torna-se carregado de expectação.
Eis uma forma prática de exercitar esta idéia. Viva durante a semana como herdeiro do reino, ouvindo a voz de Deus, obedecendo à sua palavra. Uma vez que você ouviu a voz de Deus no decorrer da semana, sabe que a ouvirá quando congregar-se para a adoração pública. Chegue para o culto dez minutos mais cedo. Erga o coração em adoração ao Rei da Glória. Contemple sua majestade, glória e ternura conforme reveladas em Jesus Cristo. Retrate a maravilhosa visão que Isaías teve do Senhor “alto e sublime” ou a magnífica revelação que João teve de Cristo com olhos “como chama de fogo”, e voz “como voz de muitas águas”(Is.6; Ap.1). Peça à Presença real que se manifeste. Que encha o recinto de Luz.
A seguir, eleve à Luz de Cristo o pastor ou as pessoas investidas de responsabilidades especiais. Imagine a radiância da Shekinah de Deus cercando essa pessoa. Interiormente, libere-se para falar a verdade com ousadia no poder do Senhor.
Agora as pessoas estão começando a entrar. Relance as vistas do redor até que seus olhos vejam alguém que necessita de seu trabalho intercessor. Talvez os ombros dessas pessoas estejam caídos, ou elas pareçam um pouquinho tristes. Eleve-se à gloriosa de refrescante Luz da Presença divina. Imagine a carga caindo de seus ombros como caiu do Peregrino, na alegoria de Bunyan. Mantenha-as como uma intenção especial durante o culto. Bastaria que uns poucos, em qualquer congregação, fizessem isto para aprofundar a experiência de adoração de todos.
Outro aspecto vital da comunidade eclesiástica primitiva era seu senso de estarem “reunidos”em adoração. Primeiro, eles se congregavam em um grupo e, segundo quando se encontravam, estavam congregados numa unidade de espírito que transcendia seu próprio individualismo.
Em contraste com as religiões do Oriente, a fé cristã tem acentuado fortemente a adoração conjunta. Mesmo em circunstâncias altamente perigosas, a comunidade primitiva era estimulada a não deixar de congregar-se (Hb.10.25). As epístolas falam com freqüência da comunidade crente como o “corpo de Cristo”. Visto como não se pode imaginar a vida humana sem cabeça, braços e pernas, assim não podiam pensar aqueles cristãos em viver isoladamente uns dos outros. Martinho Lutero dá testemunho do fato de que “em casa, em minha própria casa, não há calor ou vigor em mim; mas na igreja, quando a multidão se congrega, em meu coração acende um fogo que se espalha”.
Além disso, quando o povo de Deus se reúne, muitas vezes há um senso de estarem “reunidos”em uma só mente, estando de perfeito acordo (Fp.3.15). Thomas Kelly disse: “Uma Presença vivificadora toma conta de nós, derrubando alguma parte da intimidade e isolamento especiais de nossas vidas individuais e fundindo nossos espíritos numa Vida e Poder superindividuais. Um Presença objetiva, dinâmica envolve a todos nós, nutre nossas almas, traz-nos alegre e indizível conforto, e aviva em nós capacidades que antes se achavam adormecidas”. Quando verdadeiramente nos congregamos em adoração, ocorrem fatos que nunca ocorreriam fora do grupo. Há a psicologia do grupo e não obstante é muito mais, é interpenetração divina. Há o que os escritores bíblicos chamaram koinonia, profunda comunhão interior no poder do Espírito.
Esta experiência transcende de muito o esprit de corpos. Ela não tem a mínima dependência de unidades homogêneas ou mesmo de conhecer informação da vida uns dos outros. Há uma fusão divina de nossa separação. No poder do Espírito somos “envolvidos num senso de unidade e de Presença tal que silencia todas as palavras e nos envolve numa calma indizível e entrelaçamento dentro de uma vida mais vasta”. Tal comunhão na adoração torna a adoração vicária, por via de intermediários, sem sabor e vazia.
O DIRIGENTE DA ADORAÇÃO
A adoração autêntica tem somente um dirigente, Jesus Cristo. Quando falo de Jesus como o Dirigente da adoração quero dizer, antes de tudo, que ele está vivo e presente entre seu povo. Sua voz pode ser ouvida em seus corações e sua presença conhecida. Não somente lemos a respeito dele na Escritura; podemos conhece-Lo por meio de revelação. Ele deseja ensinar-nos, guiar-nos, repreender-nos, consolar-nos.
Em segundo lugar, Cristo está vivo e presente em todos os seus ofícios. Na adoração inclinamo-nos a considerar Cristo somente em seu ofício sacerdotal, como Salvador e Redentor. Mas ele está também entre nós como nosso Profeta. Isto é, ele nos ensinará a respeitar a justiça e nos dará poder para fazer o que é justo. George Fox disse: “Congregai-vos em Nome de Jesus... ele é vosso Profeta, vosso Pastor, vosso Bispo, vosso Sacerdote, no meio de vós, para abrir-vos, e santificar-vos, e alimentar-vos com Vida, e vivificar-vos com Vida”.
Em terceiro lugar, Cristo está vivo e presente em todo o seu poder. Ele nos salva não só das conseqüências do pecado, mas do domínio do pecado. Ele nos dará a força para obedecer a tudo o que nos ensinar. Se Jesus é nosso dirigente, seria de esperar que ocorressem milagres na adoração. Curas, tanto interiores como exteriores, serão a regra e não a exceção. O livro de Atos será não apenas algo para leitura, mas parte de nossa experiência.
Em quarto lugar, Cristo é o Dirigente da adoração no sentido de que só ele decide que instrumentalidades humanas devem ser usadas, caso se use alguma. As pessoas pregam, ou profetizam, ou cantam, ou oram segundo sejam chamadas por seu Dirigente. Desta forma não há lugar para a exaltação pessoal ou para conceitos privados. Só Jesus é honrado. À medida que nosso Chefe vivo os evoca, qualquer um ou todos os dons do Espírito podem ser livremente exercidos e alegremente recebidos. Talvez seja dada uma palavra de conhecimento na qual é revelado o intento do coração e sabemos que o rei Jesus está no comando. Talvez haja uma profecia ou uma exortação que nos coloque de sobreaviso porque sentimos que a Kol Yahweh foi proferida. A pregação ou ensino manifesto porque o Chefe vivo o evocou comunica vida à adoração. A pregação sem a unção divina cairá como água gelada sobre a adoração. A pregação que vem do coração inflama o espírito de adoração; a pregação que vem do intelecto apaga as brasas acesas. Nada há mais vivificador do que a pregação inspirada pelo Espírito; nada mais mortal do que a pregação vinda de inspiração humana.
AVENIDAS DA ADORAÇÃO
Um motivo por que a adoração deve ser considerada como Disciplina Espiritual é que ela é um meio ordenado de agir e viver, que nos põe diante de Deus de modo que ele possa transformar-nos. Muito embora estejamos apenas respondendo ao toque libertador do Espírito Santo, há avenidas divinamente indicadas que levam a este domínio.
A primeira avenida que leva à adoração é calar toda atividade de iniciativa humana. O silêncio da “atividade de ordem humana”, como lhe chamavam os patriarcas da vida interior, não é algo que se limite aos cultos de adoração, mas um estilo de vida. Ele deve permear o tecido diário de nossa vida. Devemos viver num perpétuo silêncio interior, que ouve, de sorte que nossas palavras e ações tenham sua fonte em Deus. Se estamos acostumados a levar a cabo os negócios de nossa vida em força e sabedoria humanas, faremos a mesma coisa na adoração conjunta. Se, porém, temos cultivado o hábito de permitir que toda conversação, toda transação de negócios, sejam divinamente inspiradas, essa mesma sensibilidade fluirá para a adoração pública. François Fénelon disse: “Feliz a alma que por uma sincera renúncia de si mesma se mantém incessantemente nas mãos do Criador, pronta a fazer tudo o que ele quer; que nunca se detém dizendo para si mesma uma centena de vezes por dia: “Senhor, que queres que eu faça”?
Parece impossível? O único motivo pelo qual cremos que isto está muito além de nosso alcance é que não entendemos a Jesus como nosso Mestre presente. Depois de havermos estado sob sua tutela por algum tempo, vemos como é possível que todo movimento de nossa vida tenha sua raiz em Deus. Acordamos de manhã e ficamos na cama silenciosamente louvando e adorando ao Senhor. Dizemos-Lhe que desejamos viver sob sua liderança e governo. Dirigindo nosso carro para o trabalho, perguntamos a nosso Mestre: “Como vamos indo?” Imediatamente nosso Mentor relampeja diante de nossa mente a observação cáustica que fizemos ao nosso cônjuge à hora do café, a demonstração de desinteresse revelada a nossos filhos ao sairmos de casa. Reconhecemos que temos vivido na carne. Há confissão, restauração e uma nova humildade.
Paramos no posto de gasolina e sentimos um impulso divino de travar conhecimento com a pessoa que nos atende, de vê-la como um ser humano e não como um autômato. Continuamos dirigindo, regozijando-nos em nosso novo discernimento da atividade iniciada pelo Espírito. E assim prosseguimos durante o dia: um impulso aqui ou uma aração ali, às vezes correndo na frente ou andando morosamente atrás de nosso Guia. Como a criança que dá os primeiros passos, estamos aprendendo mediante o êxito e o fracasso, confiantes em que temos um Mestre presente que, por meio do Espírito Santo, nos guiará a toda verdade. Desse modo chegamos a compreender o que Paulo queria dizer quando nos instruiu a não andar “segundo a carne, mas segundo o Espírito”. (Rm.8.4).
Silenciar a atividade da carne de modo que a atividade do Espírito Santo domine nosso modo de viver modificará e melhorará a adoração pública. Às vezes ela tomará a forma de absoluto silêncio. Certamente que é mais apropriado aproximar-nos em reverente silêncio e temor diante do Santo da Eternidade, do que correr apressadamente à sua Presença com corações e mentes voltados para o lado errado e línguas loquazes. A admoestação bíblica é: “O Senhor, porém, está no seu santo templo; cale-se diante dele toda a terra”. (Hc.2.20).
O louvor conduz-nos à adoração. Os salmos são a literatura de adoração e seu mais proeminente aspecto é o louvor. “Louvai ao Senhor” é o grito que repercute de um extremo ao outro do Saltério. Cantar, gritar, dançar, regozijar-se, adorar – tudo isso é linguagem de louvor.
A Escritura insiste conosco a que “ofereçamos a Deus, sempre, sacrifício de louvor, que é o fruto de lábios que confessam o seu nome”(Hb.13.15). O Antigo Pacto exigia o sacrifício de touros e de bodes. O Novo Pacto requer o sacrifício de louvor. Pedro diz-nos que como novo sacerdócio real de Cristo devemos oferecer “sacrifícios espirituais”, o que significa “proclamardes as virtudes daquele que vos chamou das trevas para a sua maravilhosa luz”(I Pe.2.5,9).
Pedro e João saíram do Sinédrio com as costas sangrando e com louvor nos lábios (Atos 5.41). Paulo e Silas encheram a cadeia filipense com seus hinos de louvor (At.16.25). Em cada caso estavam oferecendo o sacrifício de louvor.
O mais poderoso movimento de louvor do século vinte tem sido o movimento carismático. Por meio dele deus tem soprado nova vida e vitalidade em milhões de vidas. Em nosso época a igreja de Jesus Cristo está adquirindo uma consciência mais ampla de quão central é o louvor em conduzir-nos à adoração.
No louvor vemos quão totalmente as emoções precisam ser levadas ao ato de adoração. Adoração exclusivamente intelectual é aberração. Os sentimentos são uma parte legítima da personalidade humana e deveriam ser empregados na adoração. Fazer tal afirmativa não significa que a adoração deva violentar nossas faculdades racionais, mas significa que nossas faculdades racionais sozinhas são insuficientes. Conforme aconselhou Paulo, devemos orar com o espírito e orar com a mente, cantar com o espírito e cantar com a mente ( I Co.14.15). Esse é um motivo para o dom espiritual de línguas. Ajuda-nos a ir além da mera adoração racional para uma comunhão mais íntima com o Pai. A mente pode não saber o que está sendo dito, mas o espírito sabe. O Espírito de Deus entra em contato com o nosso espírito.
O cântico visa a levar-nos ao louvor. Ele proporciona um meio para a expressão da emoção. Através da música expressamos nossa alegria, nossas ações de graças. Nada menos que quarenta e um salmos mandam-nos “cantar ao Senhor “. Se o cântico e o louvor podem ocorrer numa forma concentrada, isto serve para orientar-nos. Concentramo-nos. Nossa mente e espírito fragmentados fluem para um todo unificado. Tornamo-nos equilibrados para com Deus.
Deus quer que todo o nosso ser participe da adoração. O corpo, a mente, o espírito e as emoções devem todos ser colocados no altar da adoração. Muitas vezes temo-nos esquecido de que a adoração deve incluir o corpo bem como a mente e o espírito.
A Bíblia descreve a adoração em termos físicos. O significado básico da palalvra hebraica que traduzimos por adoração é “prostrar”. A palavra bênção literalmente significa “ajoelhar-se”. Ações de graça referem-se a “uma extensão da mão”. Por toda a Bíblia encontramos uma variedade de posturas físicas relacionadas com a adoração: jazer prostrado, em pé, ajoelhado, erguer as mãos, bater palmas, levantar a cabeça, curvar a cabeça, dançar e usar pano de saco e cinzas. O ponto em questão é que devemos oferecer a Deus nossos corpos bem como o restante de nosso ser. A adoração é apropriadamente física.
Devemos apresentar nossos corpos a Deus em adoração, numa postura consistente com o espírito interior de adoração. Ficar em pé, bater palmas, dançar, erguer as mãos, levantar a cabeça são posturas consistentes com o espírito de louvor. Assentar-se quieto, ar severo é evidentemente, inapropriado ao louvor. Ajoelhar-se, curvar a cabeça, prostrar-se, são posturas consistentes com o espírito de humildade.
Somos rápidos para fazer objeções a esta linha de ensino. “As pessoas têm temperamentos diferentes”, alegamos. “Isso pode apelar para tipos emocionais, mas eu sou naturalmente calado e reservado. Não é esse o tipo de adoração que satisfaria a minha necessidade”. O que devemos ver é que a verdadeira pergunta na adoração não é: “Que é que satisfará a minha necessidade?”. A verdadeira pergunta é: “que tipo de adoração Deus requer?”É claro que Deus demanda adoração sincera. E é razoável esperar que a adoração sincera seja física bem como intelectual.
Muitas vezes nosso “temperamento reservado” é pouco mais do que receio do que os outros pensem de nós, ou talvez indisposição para humilhar-nos perante Deus e os outros. É claro que as pessoas têm temperamentos diferentes, mas isto nunca deve impedir-nos de adorar com todo o nosso ser.
Podemos, naturalmente, fazer tudo isso que acabamos de descrever e jamais entrar em adoração, mas esses fatores podem prover-nos vias através das quais somos colocados diante de Deus de modo que nosso espírito interior possa ser tocado e libertado.
CONSEQÜÊNCIAS DA ADORAÇÃO
Se a adoração não nos transformar, ela não é adoração. Estar diante do Santo da eternidade é transformar-se. Os ressentimentos não podem ser guardados com a mesma tenacidade quando entramos na graciosa luz de Deus. Como disse Jesus, precisamos deixar nossa oferta perante o altar e ir reconciliar-nos com nosso irmão (Mt.5.23-24). Na adoração uma força maior abre caminho que vai dar no santuário do coração, cresce na alma uma compaixão maior. Adorar é transformar-se.
Se a adoração não nos impulsionar para maior obediência, ela não é adoração. Assim como a adoração começa em santa expectação, ela termina em santa obediência. A santa obediência evita que a adoração se torne um narcótico, uma fuga das necessidades prementes da vida moderna. A adoração habilita-nos a ouvir com clareza o chamado para o serviço de modo que respondemos: “Eis-me aqui, envia-me a mim” (Is.6.8). A adoração autêntica impelir-nos-á a unirmo-nos à guerra do Cordeiro contra os poderes demoníacos por toda parte, no nível pessoal, no nível social e no nível institucional. Jesus, o Cordeiro de Deus, é nosso comandante chefe. Recebemos suas ordens para o serviço e vamos na poderosa força do Senhor.
... conquistando e para conquistar, não como o príncipe deste mundo com açoites e prisões, torturas e tormentos nos corpos das criaturas, para matar e destruir a vida dos homens... mas com a palavra da verdade.... retribuindo o ódio com amor, lutando com Deus contra a inimizade, com orações e lágrimas noite e dia, com jejum, choro e lamentação, em paciência, em fidelidade, em verdade, em amor não fingido, em longanimidade, e em todos os frutos do espírito, de modo que, por todos os meios possamos vencer o mal com o bem...
Willard Sperry declarou: “A adoração é um aventura deliberada e disciplinada na realidade”. Não é para os tímidos e para os que se dão ao conforto. Ela exige que nos abramos a nós mesmos à perigosa vida do espírito. Ela torna impertinente toda a parafernália religiosa de templos e sacerdotes e ritos e cerimônias. Ela envolve uma disposição de deixar que “Habite ricamente em vós a palavra de Cristo: instruí-vos e aconselhai-vos mutuamente em toda a sabedoria, louvando a Deus, com salmos e hinos e cânticos espirituais, com gratidão, em vossos corações” (Cl.3.16).
Richard J. Foster – Celebração da Disciplina